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Nota de pesar pelo falecimento de Diogo Sant’Ana

Nota de pesar pelo falecimento de Diogo Sant’Ana

À família de nosso querido amigo Diogo Sant’Ana
À nossa querida Lívia Sobota
Aos seus amados filhos Gabriela e Caetano,

É com muita dor, uma insuportável presença do vazio, e perplexos pela fragilidade da vida que nós, os amigos da gestão do Ministro Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência da República, escrevemos esta carta. Diogo era uma referência para todos nós, inspirador, humano, uma liderança inata, respeitado tanto pelos mais velhos quanto pelos jovens que integraram o órgão sob sua responsabilidade quando era Secretário-Executivo. Sua presença sempre representou os mais altos valores democráticos, republicanos e populares que podíamos querer para nossa missão de articular as demandas das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais às ações de governo no Estado brasileiro.

Todo dia, Diogo nos ensinava como valia a pena lutar pelos direitos dos pobres, dos trabalhadores, no campo ou nas cidades, dos catadores de materiais recicláveis, dos quilombolas, dos indígenas, das mulheres, dos negros, da juventude de periferia, das pessoas com deficiência, dos hansenianos, dos gays, lésbicas, travestis, transexuais. Graças a Diogo, a delicada linha de transmissão entre as demandas da sociedade civil e o Estado não se quebrava. Fizemos inúmeras ações de governo exitosas: o Marco Regulatório da Organizações da Sociedade Civil, o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, o Projeto Cataforte, o Juventude Viva; estes são alguns exemplos de políticas públicas que, dadas as evidentes dificuldades em organizá-las em um Estado desigual e subdesenvolvido, somente foram possíveis pela perseverança e genialidade de Diogo à frente da Secretaria Executiva. Mas foi muito além disso, sob Diogo fizemos desintrusões de terras indígenas, organizamos a sociedade civil para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, lutamos pela correta reparação dos povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais atingidos pela construção da Usina de Belo Monte, organizamos a visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, e convivemos diariamente com as manifestações de junho de 2013, buscando o diálogo necessário entre os movimentos sociais envolvidos e a presidenta Dilma Rousseff.

Diogo era um ponto fundamental de equilíbrio de pautas tão conflitantes, sempre otimista, confiante de que a luta valia a pena, especialmente a luta mais hostil que é a luta dentro do aparelho de Estado contra injustiças históricas. Quando lançamos a Política Nacional de Participação Social, que daria um salto qualitativo na institucionalização das lutas populares, recebemos a primeira reação contundente das forças conservadoras que estavam dormentes no Brasil dos governos petistas, forças essas que em breve fariam um golpe sujo contra a presidenta eleita e que declarariam guerra a toda essa pauta progressista que a SGPR representava. Nas palavras de um medíocre deputado representante desse golpismo, quilombolas, índios, gays, lésbicas, “tudo o que não presta”, estava “aninhado” no gabinete do ministro Gilberto Carvalho. Diogo e Gilberto ficaram felizes com essa declaração, para surpresa de todos: sabiam agora que estavam, decididamente, do lado certo da História.

Sinceramente, é um milagre termos convivido com uma pessoa como Diogo. Sua história de vida é daquelas que fazem revoluções nos rótulos tão comuns em nossa sociedade desigual. Menino negro, pobre, periférico, chegou ao lugar tipicamente ocupado pelos brancos. Diogo foi tudo o que quis ser, estudou, trabalhou, chegou ao topo. Ele estava muito feliz com a sua formação final de doutoramento e tinha orgulho do mestrado em Harvard. Mas seu maior orgulho era ter sido pai, como ele ficava feliz ao comentar sobre as crianças! Alegria era uma marca dele, e trabalho, muito trabalho. Mas não nos sentíamos esgotados pelo seu ritmo, talvez pela importância que aquelas políticas públicas tinham para os pobres, ou pelo compromisso que tínhamos com o projeto popular encampado pelos governos Lula e Dilma. Com Diogo, estávamos confiantes em nosso trabalho, e as coisas aconteciam.

Nós sabemos a imensa falta que Diogo fará ao Brasil. Sua partida é precoce, injustificada, sem sentido. Diogo deveria ter vivido muitos anos entre nós; mas essa vida é frágil como um sopro, especialmente entre os grandes. Ele gostava muito da frase de Frei Betto: “a cabeça pensa onde os pés pisam”. Era um verso sobre a importância de pensar objetivamente, dentro da realidade concreta, que é, para nós, o povo brasileiro. Mas hoje é uma frase sobre a vida de Diogo, por ele ter pisado em tantos brasis, talvez por isso seu pensamento era tão rico, cheio de esperança e, mais importante, eficiente em buscar soluções para problemas difíceis.

Diogo, nosso amigo eterno, se em algum lugar estiver lendo essa carta, por meio de seus familiares, amigos ou mesmo Gabriela e Caetano: nós vamos continuar a pisar nessa terra que tanto precisa de mudança, faremos isso pela nossa amizade, que foi selada no sofrimento do povo brasileiro, e que terminará somente com a libertação completa dele de toda opressão.

Assinam os amigos e amigas que serviram na Secretaria-Geral da Presidência da República durante a gestão do Ministro de Estado Gilberto Carvalho (2011-2014)

Brasil, 02 de janeiro de 2020.

Adriana Matta, Adriana Segabinazzi, Alexandre Brasil, Aline Akemi Freitas, Aline Souza, Amazico Rosa, Ana Tulia, André Calixtre, Anna Paula Feminella, Bianca dos Santos, Bigode, Bruna Martins dos Santos, Bruno Vanhoni, Bruno Vichi, Carla Bezerra, Carla Borges, Dani Metello, Daniel Grabois, Danni Gobbi, Delcimar Pires Martins, Diego Scardone, Efraim Neto, Elisa Guaraná, Evânio Araújo, Fabio Kobol, Fabricio Prado, Fanie Ofugi R. Miranda, Fernanda Machiavelli, Fernanda Marangoni, Fernanda Papa, Felipe Dias, Felipe Freitas, Fernando Matos, Gabriella Oliveira, Gilberto Carvalho, Helena Abramo, Herbert Barros, Iracema Moura, Isadora Carvalho, Jana Petaccia, Joana Zylbersztajn, Jose Guerra, José Lopes Feijóo, Juliana Miranda, Lais de Figueirêdo Lopes, Larissa Beltramim, Lecio Lima da Costa, Lígia Pereira, Lili, Linéia Costa, Lucas Ramalho, Mara, Marcelo Costa, Márcia Kumer, Marcia Blanck, Maurício Dantas, Miraci Lopes dos Santos, Murilo Vieira Komniski, Nilton Tubino, Nonato Lima, Orency, Paulo Maldos, Pedro Pontual, Pedro Prata, Raiane Paulo, Ricardo Arreguy Maia, Ricardo Pontes, Ricardo Poppi, Rodrigo Amaral, Rogério Sottili, Rosalina Augusta Rolla da Costa, Selvino Heck, Sérgio Alli, Severine Macedo, Silas Cardoso, Silvio Brasil, Silvio Trida, Soraia Ofugi, Thiago Garcia, Valdomiro, Vanessa Faria, Vic Hernandez e Daniel Lerner, Wagner Caetano e Zeca.

Compartilhamos, a seguir, entrevista concedida por Diogo à Revista Gama em maio de 2020. Clique aqui para ler.

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